Cheguei. Não havia bifanas.
Fui jogar matrecos com o meu amigo Fumaz. O nível estava bom. Jogadores dotados tecnicamente, fairplay, gargalhadas. As fintas mais eficazes eram repetidas à exaustão. Um cota campeão dava uma palestra táctica, lecionando como se deve colocar a defesa, minutos antes de lhe oferecermos três derrotas consecutivas.
Sentíamo-nos bravos, inspirados. Cervejas eram bebidas como se de néctar se tratassem, embebendo essa saudável rivalidade. Bolas entravam nas redes com a mesma impetuosidade com que os perdigotos voavam das balizas do nosso adversário para o terreno de jogo.
Como acontece sempre que bebo cinco litros de cerveja, fui à casa de banho, já pela décima vez.
(O tempo parou.)
Cheirou-me a magia.
Em direcção a mim, desfilava uma mulher lindíssima e elegante, com uns olhos verdes muito vivos e sotaque da Beira Alta, que me abraçou de forma terna. Contou-me que me havia visto nessa tarde a tocar na rua, ao pé do mcDonald's, contudo não me confundira com fast food.
Confessou-me que aos seus olhos eu parecia "um filósofo que dá umas boas pinas". Que pensou em deixar um bilhete, mas temeu que eu tomasse o papel por nota de cinquenta.
"Não existe uma segunda oportunidade para criar uma boa primeira impressão", pensei, com a mesma honestidade com que o meu interesse vinha ao de cima, como uma bolha de ar urge vir à tona num charco.
Mostrei-lhe as minhas melhores fintas, bem como as minhas parcas qualidades de dançarino.
Falei-lhe sobre aquele dia em que comprei uma vaca gigante em Gibraltar.
Fiz-lhe um teste de personalidade que um amigo alcoólatra me ensinou.
Dei tudo, enfim, para que de mim ela fizesse a melhor review que já houvera feito.
Trocamos três breves chapas, enquanto intercaladamente ela me demonstrava o twerk que havia aprendido no seu Erasmus em Barcelona.
Quatro turistas voyeuristas observavam-nos à distância - dá trabalho ter sorte.
Dos clérigos, ouviam-se já as cinco badaladas, enquanto na balada a noite estava a correr de feição.
Combinamos encontrar-nos novamente e pouco depois observei-a a dissolver-se agridocemente no nevoeiro, subindo em direcção à praça da República.
Fui para casa, com o sorriso de uma criança a quem lhe apresentaram um cachorrinho recém-nascido.
A Lomo é isto, momentos de Carpe Diem florescem com a mesma fugacidade com que cheirosos tarolos são fumados à janela.
No centro da sala, entre o ócio e o sotaque a gentrificação, um varão de strip sorri para ti, com o mesmo erotismo com que aquela rapariga me segredou juras de amor eterno, mas apenas durante aquele luar.
Aquela noite viria a multiplicar-se, embora com o fado de uma boa história, que sempre tem um início, um meio e porfim, um fim.
Tudo é passageiro. As horas passam, mas o Tempo fica.
Já a Vida, essa será para sempre; hoje. 🌞
Extremamente agradável não fosse o segurança que me tratou de forma muito agressiva qdo me sentei a uma mesa externa bebendo a cerveja comprada no bar porém no "copo errado". Me fez passar constrangimento me fazendo levantar da mesa e me dirigir ao local onde comprocei ter adquirido a bebida devidamente do bar. Como se não bastasse falou que eu não falava português e sim brasileiro. Lastimável um lugar tão agradável com um funcionário em tão desacordo com o ambiente.